É um pouco bizarro, mas o Cemitério do Père-Lachaise é um dos monumentos mais famosos do mundo e um dos locais mais visitados em Paris. Muitos fatores contribuem para fazer dessa obra de Napoleão Bonaparte um pólo de atração internacional, mas o maior incentivo resulta da quantidade de personalidades famosas que ali estão sepultadas. Há escritores (Balzac, Proust), pintores (Delacroix, Modigliani), filósofos (Bourdieu, Conte), atores (Marcel Marceau, Maria Schneider), muitos músicos e até um português: o Marquês de Soveral, homem do Douro , que toda a vida se bateu pela defesa e reconhecimento do Porto a nível mundial.
Mas é, em grande parte, por causa das divas da música que o Père-Lachaise, construído há mais de 200 anos, haveria de tornar-se tão concorrido a partir da segunda metade do século XX. Naquele enorme recinto - são 44 hectares desenhados em quarteirões - moram estrelas planetárias e intemporais como a cantora de ópera Maria Callas (1923-1977), a cantora da chanson française Édith Piaf (1915-1963) ou aquele que, não sendo maior do que elas, arrastará uma legião de fãs maior do que as duas celebridades juntas: Jim Morrison (1943-1971), um dos mais lendários cantores, compositores e poetas de todos os tempos, o icónico vocalista dos Doors que integra o infortunado clube dos 27. Não há números concretos sobre a razão das visitas àquele lugar (cada visitante terá o seu ídolo), mas não custa a acreditar que grande parte fique a dever-se ao autor de "Riders on the storm". Basta pensar na quantidade de notícias publicadas nos últimos anos sobre fãs que invadiram aquele espaço. Foram sempre os fãs de "Mr. Mojo Risin".
Se não é difícil entender o fascínio da visita à última residência de um herói, mais fácil será compreender o arrebatamento que provoca a possibilidade de viver na mesma moradia ou no mesmo condomínio em que o objecto da nossa admiração viveu. Talvez nunca pensemos muito nisso por parecer uma hipótese demasiado remota. A verdade é que a possibilidade é real. A Christie's International Real Estate teve recentemente, na sua carteira de imóveis para vender, um luxuoso apartamento que faz parte do prédio em que Jim Morrison viveu até morrer.
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Esse apartamento integra um daqueles edifícios do século XIX encomendados por Georges-Eugène Haussmann, um autarca então contestado - ficou conhecido como "o artista demolidor" -, mas a quem hoje se deve, apesar da controvérsia das suas motivações, a Paris glamorosa que conhecemos e o embelezamento exterior das suas casas. Disruptivo em palco, Morrison, a lenda do rock, quem diria?, morava afinal na mais clássica das residências parisienses: Jim habitava o 3º andar, a Christies acaba de vender o elegante apartamento do piso de baixo, também ele cheio de ornamentações nas paredes, nos tetos e na lareira.
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Na senda dos artistas anarquistas, sobre os quais eventualmente construímos efabulações várias, o poeta libertário e compositor Léo Ferré, apesar de ter nascido e vivido grande parte da sua vida no Mónaco, também não dispensou a aquisição de uma moradia em França. Bom, não era bem uma moradia, era um enormíssimo castelo edificado em Lot, no sul do país. A propriedade do excêntrico artista que atuou em Portugal nos anos 80, datada do século XIV, tinha mais de 165 hectares, 17 quartos, 14 casas de banho, piscina, court de ténis, e uma extensão de vinha capaz de produzir quatro mil garrafas de vinho por ano. Reza a lenda que o autor da inconfundível "Avec le Temps" gastou todo o dinheiro que possuía neste castelo.
Saindo da Europa e fazendo uma incursão pelos Estados Unidos da América, entramos na magnífica propriedade da lendária cantora de jazz, compositora e atriz Peggy Lee. Quem nunca ouviu "Fever" na sua voz? A mulher que inspirou Amy Winehouse vivia em Bel Air, perto de Los Angeles, na Califórnia, numa enorme moradia comercializada pela Christies, que ela própria mandou restaurar, recorrendo a artesãos de todas as partes do mundo. O resultado final da obra inclui jardins, piscinas, fontes de água, spa, cozinha ao ar livre, ginásio, sala de cinema, biblioteca, adega, e mais uma quantidade extensa de extravagâncias que eram devidas a uma mulher que até aos 81 anos de vida imortalizou mais temas do que qualquer outro artista. Até 2002 somou mais de 50 anos de carreira, mais de 600 canções gravadas e múltiplas nomeações para o Oscar e o Grammy. E muitos prémios.
Já Bob Crew, magnífico compositor, produtor e bailarino que o mundo perdeu em 2014, vivia numa elegante moradia com vistas panorâmicas sobre a cidade e o mar. A cidade era também Los Angeles. A casa, que a Christies já vendeu, tem quatro suites, um elevador, uma varanda em cada um dos três pisos, um terraço no topo do imóvel, um enorme jardim e duas garagens. Se está a pensar quem era Bob Crew, pense apenas que é dele uma canção que seguramente já cantou milhões de vezes: "Can't take my eyes off you". É, de resto, a canção que lhe valeu, em 1985, o privilégio de ter a sua estrela no passeio da fama, em Hollywood Boulevard.
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