Há quem pense que o luxo se mede em quilates, cavalos de potência ou metros quadrados. Mas quem verdadeiramente o compreende, sabe que o luxo é, acima de tudo, um código — silencioso, sofisticado e quase sempre reservado aos que não precisam de o exibir. E hoje, esse código escreve-se cada vez mais na confluência entre arte, moda e arquitetura.
Vivemos num tempo curioso, em que os edifícios se vestem como modelos e as casas são construídas com a mesma minúcia com que se desenha um vestido de Alta-Costura. Se a moda sempre teve o seu palco em Paris ou Milão, a arquitetura de luxo reclama, agora, a sua passerelle no Dubai, Nova Iorque, Miami, e sim — também em Lisboa e no Algarve. O fenómeno tem um nome importado, como quase tudo neste mercado global: branded residences. E o conceito é tão simples quanto eficaz: colocar a chancela de uma marca de luxo ao edifício, e elevar a habitação a uma extensão da identidade pessoal.
Não se trata de decoração caprichosa, nem de um nome famoso colado à fachada para impressionar turistas. Trata-se de algo mais profundo: de um novo olhar sobre a habitação, onde o design serve o ego com precisão cirúrgica. Armani, Fendi, Versace, Dior, Bulgari. Marcas de alta-costura onde os estilistas, cansados de vestir corpos, decidiram agora vestir edifícios — com o mesmo rigor, a mesma obsessão pelo detalhe, a mesma busca do inatingível.
O comprador destas residências não procura apenas uma casa. Procura um estilo de vida. Exige vistas, mas também privacidade. Quer tecnologia, mas que seja invisível. E, sobretudo, quer que cada recanto da sua casa conte uma história — a sua história. Porque já não basta possuir: é preciso pertencer.
Mas uma branded residence não se mede apenas pelo nome na fachada ou pelas linhas do projeto arquitetónico — mede-se, também, pelo modo como se vive lá dentro. Os serviços oferecidos nestes condomínios de luxo não são meros acessórios: são parte integrante do conceito, pensados para refletir o ADN da marca. Tal como um vestido de Alta-Costura vem com prova marcada, ajustes à medida e um atendimento com a solenidade de um ritual, também aqui se espera portaria bilíngue 24 horas, spa de assinatura, concierge dedicado, curadoria de arte, chef privado a pedido e até aromatização exclusiva nos elevadores. Tudo é desenhado para que o morador nunca sinta que está apenas a viver — mas sim a experienciar um manifesto de marca, talhado à medida do seu estilo de vida e, claro, da sua carteira.
Portugal entrou neste mapa quase por acidente, como tantos acasos felizes. De refúgio desconhecido para alguns passou a destino cobiçado — discreto, seguro, solarengo, e com a medida certa entre tradição e modernidade. Hoje, um apartamento com assinatura no Algarve não é apenas um bom investimento. É um símbolo de conhecimento. De que se escolhe com critério e não por impulso.
As branded residences respondem a uma nova forma de estar no mundo: global, discreta, consciente. O comprador moderno quer sustentabilidade, mas sem ceder um milímetro no conforto. Quer exclusividade, mas com propósito. Quer design, mas com alma. E encontra isso em casas que são tanto lugar como uma declaração de identidade.
Não admira, por isso, que a alta arquitetura e a alta-costura tenham finalmente dado as mãos. Ambas sempre viveram do mesmo: a raridade, o detalhe, o tempo. E ambas percebem que, no topo da pirâmide, o verdadeiro luxo é não precisar de justificar nada a ninguém.
Se a economia mundial cambaleia, este mercado não treme. Porque quem compra arte, quem compra legado, não o faz a crédito. Faz por convicção — ou por instinto. E aí, nem o BCE, nem as eleições, nem as manchetes dos jornais fazem mossa.
Pode-se pensar que tudo isto soa a capricho, a vaidade embalada em marketing. Talvez. Mas também é verdade que há vaidades mais irresistíveis do que outras. E, entre um edifício banal e um condomínio com assinatura Empório Armani e interiores Dolce & Gabbana, a escolha, convenhamos, não é difícil. A diferença faz-se não só na estética, mas também na valorização a dez anos.
Apesar das madeiras nobres, dos mármores e dos objetos decorativos estrategicamente colocados, o que está verdadeiramente em causa continua a ser aquilo que sempre moveu o mundo: investimento, estatuto e retorno. Com ou sem tapete de lã à entrada. Como dizia Warren Buffett, “Price is what you pay. Value is what you get.” E no universo das branded residences, o valor não está apenas na localização ou nos acabamentos — está na experiência, no prestígio e na solidez que perduram muito depois de o glamour inicial se ter desvanecido.
Artigo de opinião publicado no portal imobiliário Casa Yes, em 11 de Junho de 2025