A história do Porto está escrita no nome das ruas, inscrita na população dos bairros, distinguida na vanguarda da arquitetura, preservada nos segredos das escadarias, premiada nos azulejos das fachadas das casas, romantizada nas soluções encontradas ao longo das muralhas fernandinas, das escarpas e do Rio Douro. É, por isso, impossível passear pelo Porto sem andar com os olhos voltados para o céu, nas pontes e nas torres e nos edifícios antigos. Aqui fazemos-lhe a proposta inversa: subir aos lugares mais altos, para conhecer a cidade a partir de cima. É uma nova cidade que vai ver nascer diante dos seus olhos. E não precisa de um drone. Só precisa de visitar os sete miradouros que lhe sugerimos. Boa viagem e boas descobertas.
1. Torre dos Clérigos: 225 degraus
A Torre dos Clérigos tem 75 metros de altura (um quarto da altura da Torre Eiffel), 272 anos de existência, 225 degraus em caracol até ao cimo e é o monumento mais alto e mais conhecido da cidade do Porto. O projeto foi desenhado, no século XVIII, por Nicolau Nasoni (o arquiteto italiano escolheu ser ali sepultado, tendo sido a sua vontade cumprida), a obra foi inaugurada em 1750 e classificada como Monumento Nacional em 1910. De lá de cima, da varanda que emoldura a torre sineira, vê-se a cidade toda, da Baixa até à Foz do Douro. A vista consegue ser ainda mais espantosa se o momento escolhido para a experiência for o do pôr do sol. Contudo, é importante observar também a Igreja e a própria torre porque constitui um dos mais belos exemplos do estilo barroco em Portugal. Ali existe também, desde 1995, um conjunto de 49 sinos, que ainda hoje dão música à cidade, caso raro no país.
2. Palácio de Cristal: 196 degraus
O Palácio de Cristal, rebatizado Super Bock Arena em 2019, é um espantoso edifício cuja cúpula de tons verde água, cravejada de pequenas claraboias, é visível a partir de vários ângulos da cidade. Essa magnífica cúpula tem 196 degraus, que a colocam a uma distância de 30 metros de altura do chão. Quem tiver coragem para fazer a subida naqueles estreitos degraus de betão, poderá contemplar os Jardins do Palácio de Cristal a partir de cima, e algumas das suas zonas emblemáticas da cidade do Porto como a Boavista, a Ribeira, a Foz e, ainda, a Ponte da Arrábida a cortar o Rio Douro. Olhando para lá do rio, tem uma vista panorâmica de Vila Nova de Gaia.
Não sedo possível fazer a visita por conta própria, as visitas guiadas incluem um percurso pelo interior deste edifício na qual é contada a história da polémica demolição, em 1951, do palácio de granito, ferro e vidro, inspirado no Crystal Palace de Londres, para dar lugar ao Pavilhão dos Desportos. As visitas têm a duração de 40 minutos e estão vedadas a menores de 12 anos.
3. Ponte da Arrábida: 262 degraus
Em 1963 esta notável obra de engenharia, da autoria de Edgar Cardoso, foi inaugurada com o entusiasmo e o receio de ser a ponte com o maior vão de betão armado em todo o mundo: 270 metros.
Até 2016, contemplar a elegância das suas linhas era privilégio que se podia ter apenas com os pés no chão e os olhos no ar. A partir de então, o belíssimo arco que atravessa o Douro, passou a ser o único da Europa que pode ser visitado. A ponte fica a 65 metros de altura do rio e é preciso subir 262 degraus para se apreciar uma das vistas mais inesquecíveis da cidade.
Em noites de lua cheia, é possível fazer esta visita à noite e, por vezes, também são realizadas subidas para ver o nascer do sol. Estas visitas, para maiores de 12 anos, realizam-se na metade do arco que fica do lado do Porto. Dali vê-se tudo do alto. Vê-se uma parte do tabuleiro da Ponte Luís I, vêem-se várias torres, da Igreja do Marquês, dos Clérigos, da Sé ou a da RTP, e vêem-se até as serras mais distantes. A Ponte da Arrábida foi classificada como Monumento nacional em 2013.
4. Casa da Música: 40 metros de altura
Chamam-lhe Terraço VIP e constitui a parte mais elevada do intrigante edifício idealizado pelo arquiteto holandês Rem Koolhaas, entretanto distinguido com o Prémio Pritzker. Inicialmente, este terraço foi projetado para ser uma zona técnica, mas, à medida que a obra foi ganhando forma, o arquiteto mudou de opinião e aquele espaço com uma vista soberba, foi incluído no percurso público da Casa da Música.
O jornal britânico "The Guardian" elegeu a Casa da Música, inaugurada em 2005, como “um dos edifícios culturais mais emblemáticos do século". A Casa, edificada no início da Avenida da Boavista, tem 17 lados e 40 metros de altura, e representa o expoente máximo do ano em que a cidade do Porto foi eleita a Capital Europeia da Cultura, em 2001. Há duas visitas guiadas por dia, com a duração de uma hora, e incluem paragens em todos os pisos, incluindo ao Bar dos Artistas, à magnifica Sala Suggia, ao Coro, ao Foyer Nascente, com 17 metros de altura em vidro ondulado, e ao terraço VIP.
5. Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões: 30 metros de altura
Seja qual for a perspetiva adotada para olhar para o premiado Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, em Matosinhos, chega-se sempre à mesmo conclusão: o edifício, de 30 metros de altura edificados a 800 metros da linha da costa, é absolutamente extraordinário. Sucede que, ainda por cima, esta arrojada obra arquitetónica desenhada pelo arquiteto Luís Pedro Silva pode ser visitada a partir do exterior. Uma vez chegados ao anfiteatro que existe na cobertura, a visita sobre o Oceano Atlântico é impossível de descrever. Não por acaso, há quem lhe chame "um ovni fora de água". Mas também há quem prefira dizer que parece um botão de rosa.
Para se visitar esta obra ortogonal é preciso fazer uma marcação prévia. Contudo, existe ali um restaurante, a partir do qual é possível sair para a rampa exterior que conduz ao topo da cobertura. Entre muitas outras distinções, este Terminal venceu o prémio Internacional da ArchDaily na categoria de melhor edifício público de 2017.
6. Escadas dos Guindais: 290 degraus
A cidade do Porto foi construída a partir das Muralhas Fernandinas, que iam da zona ribeirinha do rio Douro até as partes mais altas, nas regiões da Sé e da Vitória. Isso explica a quantidade de escadas que ali existem e que resistiram ao tempo, ao contrário das muralhas medievais, que foram quase todas destruídas. Um dos conjuntos de degraus mais emblemáticos é a escadaria dos Guindais, mesmo ao lado da Ponte Luís I, que ligam as zonas da Ribeira do Porto e da Praça da Batalha. Ao lado, existe um café-pátio que oferece uma vista deslumbrante para a ponte e para o outro lado do rio, para Gaia e as caves do vinho do Porto. Se se aventurar pelos 290 degraus encontrará, como uma espécie de bónus, o Funicular dos Guindais, construído em 1891 e renovado em 1994. A viagem no funicular é curta, mas vale a pena.
7. Serra do Pilar: 85 metros de altura
Para fechar com chave de ouro, atravesse o rio Douro através da Ponte Luis I, e suba até ao Mosteiro da Serra do Pilar.
O Porto visto de Vila Nova de Gaia ganha outra dimensão. Aqui tem literalmente a cidade a seus pés, desde o colorido casario ribeirinho, do lado do Porto, e as históricas caves do vinho do Porto, do lado de Gaia, até à Ponte da Arrábida. Mas a panorâmica é bem mais abrangente. Para além dos barcos a flutuar pelo Douro, consegue também avistar as pontes, com destaque para a icónica Ponte Luis I, projetada por Théophile Seyrig, discípulo de Gustave Eiffel.
Suba até à Serra do Pilar, de dia ou de noite, porque vale sempre a pena e nunca estará sozinho. Haverá sempre alguém a passear ou a fotografar esta panorâmica fascinante.
Se puder, escolha visitar a Serra do Pilar ao entardecer para assistir a um pôr do sol que nunca mais vai esquecer.
O Mosteiro da Serra do Pilar, a Ponte Luís I e o Centro Histórico do Porto foram classificados, em 1996, como Património Mundial da UNESCO.
Publicação original na revista LUXIMOS Christie´s | Junho 2023