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Paula Rego: Saiba por que são tão raros os seus retratos

Paula Rego: Saiba por que são tão raros os seus retratos

Paula Rego pintou poucos retratos, fazendo com que cada um valha uma fortuna.

O de Fiona Bradley foi vendido pela Christie´s por 266.000 €. Conheça os outros.

Paula Rego não pinta retratos. Pinta histórias. Ao longo de 70 anos de carreira pintou o fascismo, o aborto, a tragédia e a solidariedade entre as mulheres. Ao pintar as histórias dos outros, contou a sua própria história - a de sua casa e do seu país, Portugal. Provocadora incansável, pintou a solidão e o desespero, a frustração e o desejo, a liberdade e o encarceramento. Influenciada pelo surrealismo e, de certa forma, pelo dadaísmo, pintou o pecado que imaginava, o arrependimento, o purgatório, a moral e a falta dela. Em figuras ambíguas, meio humanas, meio animais, meio bonecos, meio coisas que só ela saberá, foi denunciando o país de que se lembrava quando era ainda demasiado pequena. O Portugal da mulher submissa, manipulada, da mulher sem norte, da mulher dona de casa. E, ao mesmo tempo, da mulher erótica, misteriosa, inabalável. Paula Rego foi sempre, na sua obra corajosamente política, a voz de quem não teve voz. A voz da consciência e da transgressão que, não raras vezes, emerge da força sexual das suas personagens. Nas suas mãos, como notou o diário "The Guardian", "o pincel é mais poderoso que uma espada".

 

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São raras as artistas contemporâneas que alcançaram um status comparável ao da pintora portuguesa radicada em Inglaterra desde 1974. E são mais raras ainda aquelas que fizeram da figura da mulher o seu tema principal. Paula Figueiroa Rego, nascida a 26 de Janeiro de 1935 em Lisboa, filha única de uma família liberal, pintou-as na dor, no poder, no amor e na redenção. Fê-lo através de pinturas, de colagens, de desenhos, de pastéis, de gravuras, de esculturas. Quase nunca através de retratos. Os seus retratos contam-se pelos dedos de uma mão, o que os transformou em raridades absolutas.

É o caso do retrato recentemente arrematado num leilão de arte contemporânea promovido pela Christie's em Londres. O quadro da escritora e programadora de arte britânica Fiona Bradley, descrito pela leiloeira como sendo "uma magnífica homenagem à amizade" entre a pintora e a atual diretora do museu The Fruitmarket Gallery de Edimburgo, foi vendido por 266 mil euros. Executado em 1997, o ano em que Bradley co-programou uma retrospectiva de Paula Rego no Museu Tate Liverpool, o retrato é um dos poucos produzidos por esta mulher extraordinária que aos 86 anos ainda vai todos os dias trabalhar para o seu atelier em Camden, no norte de Londres, e que ao fim da tarde ainda bebe religiosamente uma taça de champagne. 

Em 2004, quando o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, acolheu a primeira retrospectiva da obra de Paula Rego, a revista "Grande Reportagem" fez uma visita ao espaço desta artista reconhecida internacionalmente desde os 53 anos - a sua consagração aconteceu com a grande exposição na Serpentine Gallery, em Londres, em 1988, o ano em que morreu o marido Vic Willing - , e descreveu-o desta forma: "Os cafés, a ferver, misturam-se numa mesa em que abundam latas vazias de Coca-Cola Light, galos de Barcelos, peças de barro preto de Bisalhães (Trás-os-Montes), a boneca da Soberba que integra a série dos sete pecados mortais esculpidos por Rosa Ramalho e um CD de Mariza. Paula Rego gosta de ouvir música enquanto pinta. As referências espalham-se pelo chão: muito fado, muita ópera. Mas também Madonna, Bob Dylan e a banda sonora de "Habla con Ella" de Pedro Almodôvar, o seu realizador de eleição. E muitos vestidos comprados na Royal Opera House, o equivalente ao Teatro Nacional de S. Carlos." São os vestidos que depois aparecem pintados em obras como "A Casa da Celestina", "La Fête, "A Pata Portuguesa" ou "A Gata Nicotina". 

 

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Nenhuma obra do atelier é um retrato. Tudo ali é teatral, tudo encenado por Paula Rego, que usa quase sempre como protagonista a portuguesa Lila Nunes, sua amiga de longuíssima data e modelo de eleição. Naquela altura, a artista explicou a sua relação com os retratos: "Aos oito anos, fui fazer um retrato. Posei para o senhor Lemerce, um belga refugiado no Estoril. Fiquei muito quietinha para ele fazer o desenho, ouvia-o pintar. Ele fazia "hmmmmmm" e pintava. Estive a observar e pensei: "Aquilo não é o que eu vou fazer. Não é não." E não foi. Ainda chegou a pintar a sua avó a cozer, a sua prima Manuela, as suas criadas, e até as netas. Mas nenhuma dessas pinturas figura propriamente no retrato. "O que eu gosto mesmo é de contar uma história nas minhas pinturas, mesmo que essa história mude enquanto estou a pintar. Às vezes, só descubro a história depois de terminar de pintar." 

Apesar da sua enorme paixão pelas histórias, sobretudo aquelas que são inspiradas na tradição portuguesa, e pelos contos de fadas, Paula Rego reconhece ter uma ligação forte com as raríssimas pessoas que retratou: "Quando se desenha uma pessoa, ela dá-nos muito de volta. Às vezes dá-nos tanto, que nos inunda com a sua personalidade e a sua alma. Dificilmente podemos impedi-la de o fazer."

Quer saber quais as pessoas que tiveram o privilégio de ser retratadas por Paula Rego, desde que se formou na Slade School of Art, nos inícios dos anos 60 do século passado? A LUXIMOS Christies International Real Estate dá-lhe a resposta e desfaz um equívoco.

1. Jorge Sampaio, presidente da República português

Jorge Sampaio

 

A ligação emocional não é uma parte essencial do trabalho, garante Paula Rego. Mas com Jorge Sampaio (1939-2021), que foi presidente da República entre 1996 e 2006, a relação afetiva era forte. Eram amigos. E o então chefe de Estado teve a coragem de a convidar para fazer o seu retrato oficial numa altura em que ela estava debaixo de fogo, por causa da sua polémica série sobre o aborto, ainda proibido em Portugal. Paula Rego conseguiu pintar um magnífico quadro oficial, muito pouco oxtodoxo, e porventura mais heterodoxo ainda do que o de Mário Soares feito por Pomar. Mas não foi nada fácil, contou a pintora ao "The Guardian". "Pintar o retrato do Presidente de Portugal, Jorge Sampaio, quase me matou", confessou. Começou esse trabalho na sala do "último rei de Portugal", que tinha um estúdio naquela que é agora a residência oficial. Mas depois pediu para prosseguir a pintura noutro lugar, porque não aguentava as constantes interrupções da equipa do Presidente. "Era completamente impossível – com pessoas a chegar e a dizer: 'aquele braço não está correto', ou 'o seu nariz não é assim'. Fomos para uma sala de armários cheios de vidros e aí então trabalhei muito. Fiquei num hotel próximo. Ia todos os dias para a cama exausta."

2. Germaine Greer, escritora australiana

Germaine Greer

 

Outro dos retratos que diz ter-lhe custado fazer foi a pintura da escritora Germaine Greer (n. 1939), reconhecida como uma das mais importantes feministas do século XX, sobretudo desde que, em 1970, publicou o livro pelo qual ainda é aclamada hoje, "A Mulher Eunuco". Em 2018, novamente ao "The Guardian", Paula Rego admitiu ter ficado aterrorizada com a missão de a retratar. "A dada altura, fui até ao escritório que tenho no atelier, ajoelhei-me e rezei. Estava com tanto medo, que não conseguia pintar. Ainda assim, decidi continuar", lembrou. De seguida, descreveu o cenário: "Germaine foi sempre muito gentil comigo. Lembro-me que ela tinha um sapato descosido e isso ajudava a criar a imagem. Sentei-a inclinada sobre os seus próprios sapatos e isso acabou por me inspirar."

3. David Hare, dramaturgo inglês

David Hare

 

No caso do dramaturgo britânico David Hare (n. 1947), guionista duas vezes nomeado para os Oscars - com "As Horas" (2002) e com "O Leitor" (2008) -, o processo foi diferente. "Não porque ele fosse um homem, mas porque era realmente uma pessoa muito diferente. David contou-me que fez parte de um coro, quando era criança. Então, decidi dar-lhe um cordeiro e um cajado, como se ele fosse um pastor", contou Paula Rego. Dali resultou um retrato, como a própria admite, que parece uma imagem religiosa.

4. Fiona Bradley, programadora de arte britânica

Fiona Bradley

 

Fiona Bradley é, desde 2003, diretora da The Fruitmarket Gallery, em Edimburgo. Antes disso, foi curadora da Hayward Gallery e da Tate Liverpool. Foi nesse contexto que conheceu Paula Rego, sobre quem escreveu um livro e cuja exposição retrospetiva acabou por programar, sendo por ela retratada. Foi este o retrato leiloado pela Christie's. "Passagens ricamente trabalhadas de cores em camadas injetam a carne da modelo com uma qualidade visceral luminosa, capturando o jogo de luz e sombra na sua forma. Ela olha para longe, uma mão atrás da cabeça, como se fosse apanhada num momento a sonhar acordada", descreveu a leiloeira. 

5. Retrato de Grimau, polícia espanhol

Grimau

 

A palavra "retrato" no título da obra induz os mais distraídos em erro. "Retrato de Grimau" não é um retrato do espanhol Julián Grimau, executado na madrugada de 20 Abril de 1963. Grimau foi um polícia que se filiou no Partido Comunista pouco depois de ter começado a Guerra Civil, razão pela qual  foi denunciado e detido para interrogatório em Novembro de 1962. Foi torturado pela polícia até ficar em coma. A comunidade internacional uniu-se como nunca antes se vira, para implorar ao ditador Franco que o libertasse. E foi assim que a história galgou as fronteiras de Espanha, chegando ao conhecimento de Paula Rego. A pintora não o retrata, constrói um quadro perturbador, usando desenho e colagem, tomando posição sobre um dos episódios mais trágicos e bizarros da história contemporânea de Espanha.

 
 

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