Portugal criou um selo que lhe permite estar acima de qualquer suspeita.
Públio Clódio Pulcro foi um político populista romano, e talvez isto não lhe interesse muito. Júlio César foi outro político romano, populista e ditador, e talvez isto também não lhe interesse muito. Mas se lhe lembrar que Clódio foi julgado por tentar seduzir Pompeia, a mulher de César, talvez isto já possa interessar-lhe. Quanto mais não seja porque saberá de cor o provérbio a partir daqui produzido, e que é um dos mais repetidos em qualquer parte do mundo. É usado sempre que é necessário fazer prova de seriedade. A história é conhecida. Em tribunal, César disse nada ter contra Clódio e este acabou absolvido. Quando lhe perguntaram por que razão se separara então de Pompeia, se não acreditava na traição, ele respondeu: "A mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita".
É exatamente aquilo que pretende Portugal, um dos países da Europa com melhor desempenho na reação à pandemia da covid-19, ao criar o selo de segurança "Safe & Clean". Portugal é um dos países que mais testou a população, que mais rapidamente tomou precauções, que mais depressa viu a pandemia estancada e que menos mortes registou. Apesar disso, o Turismo de Portugal decidiu criar uma plataforma que funciona como seguro de vida para os turistas estrangeiros e, previamente, ainda disponibiliza a formação adequada para que esse selo seja concedido.
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Lançada há menos de um mês, a plataforma já tem mais de 12 mil aderentes. São empresas turísticas e setores relacionados – empreendimentos, alojamento local, animação turística, agências de viagens, restauração, campos de golfe, 'rent-a-car', guias-intérpretes, casinos e equipamentos culturais - que, desta forma, se comprometem a cumprir os apertados requisitos de higiene e segurança sanitária impostos pela Autoridade Turística Nacional, em articulação com as orientações da Direção-Geral da Saúde, para reduzir riscos de contaminação de seus espaços com a covid-19 ou outras infeções.
E porque a autoavaliação não basta para "estar acima de qualquer suspeita", a plataforma, disponível em português e em inglês, desafia também os turistas a avaliarem as empresas em causa, sendo assim possível monitorizar, em tempo real, a confiança inspirada pelos aderentes ao selo. Acresce ainda que o Turismo de Portugal realiza auditorias aleatórias aos aderentes, em articulação com a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e outras associações do setor, para garantir que as premissas que justificaram a atribuição do selo continuam sendo cumpridas.
É um modelo de transparência pioneiro nesta fase pós-pandemia. E outra coisa não seria de esperar num país que é um dos destinos turísticos mais procurados no mundo, com a região do Algarve, do Porto e do Norte do país contribuindo fortemente para essa elevada procura, que nos últimos anos se tem refletido num comboio de prêmios internacionais. De resto, mais de 40% dos selos já atribuídos dizem precisamente respeito a estas regiões.
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Numa pesquisa aleatória, para testar a plataforma, escolhemos parar em Vilamoura. De imediato, foram exibidos todos os locais aos quais foi atribuído o selo "Safe & Clean". Posteriormente, escolhemos um hotel, e a primeira informação que nos foi concedida, mesmo antes de qualquer fotografia do espaço, ou exibição de valências, foi a extensa lista de precauções básicas de prevenção tomadas por aquele estabelecimento, seguida das operações de limpeza asseguradas em permanência. Em causa estão operações que vão desde a desinfeção total do jacúzi, com o despejo de toda a água seguido de lavagem e desinfeção, até à limpeza, várias vezes ao dia, das superfícies e objetos de utilização comum, como balcões, interruptores de luz e de elevadores, maçanetas e puxadores de armários.
Não espanta que a imprensa internacional continue elogiando Portugal quase todas as semanas, e que os turistas estrangeiros aguardem a abertura de fronteiras, o que deverá acontecer em julho, para voarem para aquele que é comprovadamente um dos países mais seguros do mundo. Basta pensar que há fatias inteiras do país, tanto no interior como no litoral, onde a pandemia nem sequer entrou.
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